Principal conselheiro de política externa de Vladimir Putin, o ministro das Relações Exteriores russo, Serguei Lavrov, recomendou ao presidente manter aberta a via diplomática para negociar uma saída para a crise da Ucrânia, apesar das respostas negativas do Ocidente às demandas de Moscou. De acordo com Lavrov, a possibilidade de uma resolução diplomática para a crise está "longe de se esgotar".
Em uma reunião televisionada - e aparentemente roteirizada - com o Putin, o embaixador russo disse que apoiava a continuidade das negociações com o Ocidente sobre as "garantias de segurança" que a Rússia vem exigindo dos EUA e seus aliados da Otan.
"Acredito que nossas possibilidades estão longe de se esgotarem", disse Lavrov, referindo-se às negociações da Rússia com o Ocidente. “Eu proporia continuar e intensificá-los.”
Putin respondeu simplesmente: "Bom".
A reunião televisionada foi um sinal de que a Rússia pode continuar usando a ameaça de uma invasão da Ucrânia para tentar espremer concessões diplomáticas do Ocidente, em vez de recorrer à ação militar imediata - que também não está descartada. Em um momento do encontro, Lavrov afirmou que o caminho do diálogo "não se esgotou, mas também não pode durar indefinidamente", enfatizando que a Rússia está pronta para "ouvir contrapropostas sérias".
Moscou exigiu que a Ucrânia nunca seja autorizada a ingressar na Otan e também pediu uma retirada das forças ocidentais de toda a Europa Oriental - antiga zona de influência da União Soviética.
Os EUA e a Otan rejeitaram formalmente essas exigências, mas indicaram que várias áreas - incluindo controle de armas nucleares e limites de exercícios militares - estavam abertas para negociação. O Kremlin ainda não respondeu.
Putin perguntou a Lavrov se ele havia preparado um esboço de resposta às propostas que os Estados Unidos e a Otan apresentaram no mês passado. Lavrov disse que de fato preparou uma resposta de 10 páginas, sem oferecer detalhes.
Além de Lavrov, Putin também esteve reunido com o ministro da Defesa russo, Serguei Shoigu, na manhã desta segunda. O militar informou ao presidente que os exercícios conjuntos das Forças Armadas em Belarus estavam terminando, conforme registrou o jornal inglês The Guardian. Os exercícios militares ao norte da Ucrânia foram apontados como um dos elementos mais abertamente ameaçadores pelos países ocidentais.
O encontro com os principais conselheiros das áreas diplomática e bélica ocorre após um fim de semana de pressão para Moscou. No sábado, Putin ouviu ameaças do presidente americano, Joe Biden, que afirmou que sanções rápidas e custosas à Rússia seriam tomadas em caso de invasão. O presidente russo também teve uma reunião de cúpula com o líder francês Emmanuel Macron, que pediu pela continuidade da via diplomática. Ao presidente francês, Putin se queixou das "provocações" americanas sobre a crise na Ucrânia.
Desde o fim da semana passada, Moscou tem reiteradamente negado que esteja se preparando para invadir a Ucrânia, principalmente após autoridades americanas afirmarem que o avanço das tropas russas em direção a Kiev era "iminente" - o que foi classificado pelo Kremlin como "o auge da histeria americana".
O aceno também vem em um momento que o chanceler alemão, Olaf Scholz, visita Kiev, antes de se dirigir a Moscou. Na reunião marcada para a quarta-feira, 16, com Putin, Scholz espera avançar na resolução das tensões no Leste Europeu, recorrendo ao grupo de intervenção que mediou os acordos de Minsk, entre 2014 e 2015, formado por Ucrânia, Alemanha, França e Rússia, conhecido como Formato da Normandia.
Fonte: Estadão