Em 26 anos, treinamentos militares resultaram na morte de seis vítimas em Mato Grosso. Foram três mortes em dois treinamentos da Polícia Militar, duas mortes em cursos do Corpo de Bombeiros Militar e uma em Batalhão do Exército Brasileiro. Somente em três casos houve condenação, mas em todos a Justiça militar desclassificou os crimes de tortura e homicídio qualificado para lesão corporal, aplicando penas reduzidas, em regime semiaberto.
O primeiro caso ficou conhecido nacionalmente como “Caso dos Cadetes” e ocorreu em abril de 1998, durante treinamento da Polícia Militar em Cáceres (225 km a oeste). Os cadetes Sérgio Kobayashi, 26, e Evaldo Bezerra Queiroz, 29, afogaram-se no córrego Padre Inácio. Os treinamentos em água ocorreram na madrugada com o pelotão exausto.
Em junho de 2000, a juíza Cleuci Terezinha Chagas, da 11ª Vara da Auditoria Militar da Comarca de Cuiabá, absolveu o coronel reformado Celso Benedito Pinheiro Ferreira e aplicou a pena de um ano e seis meses para o capitão Clarindo Alves de Castro, punido por homicídio culposo.
Em 24 de abril de 2010, o policial militar de Maceió, Abinoão Soares de Oliveira, 34, foi morto durante instrução em água, no Lago de Manso, em curso oferecido pelo Batalhão de Operações Especiais (Bope). Ele e outros alunos foram torturados sistematicamente pelo grupo de instrutores.
Todos os 29 policiais militares que participavam do treinamento foram denunciados, mas 12 deles respondiam apenas por tortura e tiveram extinta a punibilidade. Mais de 11 anos depois da morte, apenas um dos acusados foi condenado. Em cinco de julho de 2021, o tenente-coronel Dulcézio Barros Oliveira recebeu a pena de seis anos em regime semiaberto. Em 15 de novembro de 2016, morreu o aluno Bombeiro Rodrigo Claro, cinco dias depois de ser torturado em um curso de formação dos Bombeiros, na Lagoa Trevisan.
A oficial Isadora Ledur, que comandava os treinamentos e aplicou os “caldos” ou sessão de afogamentos, foi condenada em 2021 por maus-tratos, a um ano e um mês, em regime semiaberto. O soldado do exército Rafael Luz Marques Pereira, 18, morreu após ser torturado em treinamento do Exército Brasileiro, no 18º Grupo de Artilharia de Campanha (18º GAC) em Rondonópolis, em 10 de abril de 2020.
Ele havia ingressado na instituição no dia dois de março. O Inquérito Policial Militar (IPM) foi encerrado em 18 de maio de 2020 eximindo o Exército de qualquer responsabilidade. No dia 27 de fevereiro deste ano, morreu Lucas Veloso Perez, 27, em Cuiabá, por afogamento, na Lagoa Trevisan, em treinamento aquático para formação do Corpo de Bombeiros, após sequência de “caldos” aplicados pelo capitão Daniel Alves de Moura e Silva, o “D. Alves” ou “D. Louco”. Será investigado pela Corregedoria dos Bombeiros que também encaminhará o caso à Justiça Militar.
Fonte: GD