Associação dos Criadores de Mato Grosso (Acrimat) quer a revisão do protocolo entre Brasil e China, assinado em 2015, para a exportação de carne bovina. Entre as medidas, está a decisão de auto-embargo em casos de registro da Encefalopatia Espongiforme Bovina, doença conhecida popularmente como “vaca louca”. Último caso da doença no país registrado no estado do Pará acarretou a suspensão de envios da carne bovina para o país asiático.
Em entrevista, o diretor técnico da Acrimat, Francisco Manzi, disse que há algum tempo vem discutindo com autoridades a revisão do acordo.
“Quando foi feito o acordo, em 2015, ainda no governo Dilma e a ministra era a Kátia Abreu, se colocou que por uma questão de transparência todos os casos de doença de vaca louca, o próprio ministério de agricultura se antecipa e suspende as exportações. Mas não foi especificado que no caso de vaca louca atípica, que é os únicos casos que tiveram no Brasil, tivesse a mesma consequência”, argumentou.
O Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) anunciou a suspensão do envio da carne bovina para a China, nessa quinta-feira (23) seguindo assim, as regras do acordo firmado. O gestor da pasta, Carlos Fávaro, acredita que o caso registrado no Pará, seja mais um atípico. Mostras do caso foram enviadas para laboratório no Canadá para atestar a origem da doença.
Arquivo
“Pela característica, experiência em termos de vigilância de veterinários que atenderam o caso e pela forma que é criado esses animais e esse rebanho em que estava o caso, é muito provável que seja atípico, um caso normal e comum pertinente ao envelhecimento das criaturas”, disse Fávaro.
A suspensão preocupa o setor mato-grossense, que é o maior produtor de gado do país e principal fornecedor do produto para a China. Dados do Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária (Imea) revelam que o país asiático foi responsável pelo recorde das exportações saltando em quase 195% as compras da carne bovina de Mato Grosso, em janeiro deste ano. Manzi destaca preocupação no setor com a suspensão das vendas.
“Hoje quase 30% da produção brasileira é exportada. A China é de longe nosso maior comprador. Ela compra do Brasil equivalente 600 mil bois por mês, o que nos arrisca a dizer que a produção de Mato Grosso, que é o maior do Brasil, não seria suficiente para atender as exportações para China. Se ela demorar a voltar [comprar] essa carne vem para o mercado interno e isso já reflete não só para os produtores como a cadeia como um todo”, explicou Manzi.
A China tem autonomia de decidir querer ou não voltar a comprar a carne brasileira.
O caso
A Agência de Defesa Agropecuária do Estado do Pará (Adepará) confirmou no dia 22 deste mês o caso positivo para a Encefalopatia Espongiforme Bovina, doença conhecida popularmente como “vaca louca”, em uma pequena propriedade rural do estado com cerca de 160 cabeças de gado. O animal tem 9 anos.
A entidade afirmou se tratar de um caso atípico que surge espontaneamente na natureza, não causando risco de disseminação ao rebanho e ao ser humano. Disse ainda que amostras foram enviadas para o laboratório, no Canadá, para averiguação do caso, cumprindo assim com o acordo de 2015 firmado entre Brasil e China que preza pela transparência que em caso da doença, o Mapa se anteciparia e suspenderia as exportações para o país asiático.
O resultado da análise deve sair nos próximos dias.
Outros registros da doença
Caso mais recente da “vaca louca” no Brasil foi registrado em 2021, nos estados de Minas Gerais e Mato Grosso. Na época, a China suspendeu a compra da carne brasileira que se estendeu por 100 dias. O embargo teve inicio em setembro e encerrou em 15 de Dezembro.
A Organização Mundial de Saúde (OIE) realizou uma avaliação no país e concluiu que a doença no Brasil não representa riscos para a saúde animal e humana.
Fonte: GD